Café com Anime - Junji Ito Collection Episódio 11


Sejam todos bem vindos a mais um Café com Anime, desta vez conversamos um pouco sobre o episódio 11 e penúltimo de JUNJI ITO: COLLECTION. Esse foi um episódio cheio de referências de obras shounen, além de nos trazer mai uma visão sobre a morte. Para conversar sobre isso e outras coisas, eu, Gato de Ulthar, juntamente com o Diego do É Só Um Desenho, o Vinicius do Finisgeekis e Fábio "Mexicano" do  Anime21, nos reunimos do Café com Anime desta semana.

Eu já apresentei o projeto Café com Anime anteriormente, mas para os desavisados, eu, Gato de Ulthar, juntamente com outros amigos blogueiros, estamos realizando análises semanais de animes da temporada, a medida que os episódios forem saindo, tudo em forma de conversa entre os participantes. 

Se você tem interesse em conhecer nossas expectativas para esta temporada, leio nosso post introdutório:

CAFÉ COM ANIME - ESCOLHAS E EXPECTATIVAS PARA A TEMPORADA DE JANEIRO DE 2018.




Nesta temporada, o Dissidência Pop ficou responsável por publicar nossas conversas sobre o anime Mahoutsukai no Yome e Junji Ito: Collection, enquanto o É Só Um Desenho ficou responsável por Kokkoku. Já o Finisgeekis publicará nossa conversa sobre Cardcaptor Sakura: Clear Card-Hen. E no Anime21, temos as discussões sobre Violet Evergarden.

Gato de Ulthar-

Acho que esse foi o episódio mais louco de todos até agora? Como o Junji Ito conseguiu juntar estudantes e um zumbi que atiram rajadas de energia, Godzilla, estátuas da Ilha de Páscoa e entortamento de colheres, tudo isso na mesma história? Certamente esse foi umas das histórias mais bizarras até o momento. E eu gostei dela? Sim! A segunda história, a do espantalho, também me agradou bastante, é uma narrativa simples, mas poderosa, sobre a morte e como os que ficaram para trás lidam com ela, mesmo que criando espantalhos para isso.

Diego-

A primeira história dava uma proposta bem legal pra um anime de ação/aventura, mas como história de terror... meh. Fiquei com a impressão que ela acaba abruptamente justo quando parecia que ia ficar interessante. E aquela coisa não é um dinossauro nem aqui nem no cretáceo! Já sobre o segundo conto... Isso provavelmente vai soar estranho, mas eu achei ele meio repetitivo. Digo, em essência esse é ainda mais um conto sobre um grupo de pessoas que não consegue lidar a perda de alguém querido e que tentam criar alguma forma de simulacro para esses que se foram. Já tivemos o que, umas 3 ou 4 histórias com temática parecida? Sei lá, mas no fim também me soou bem esquecível.

Vinicius Marino-

De fato, Junji Ito tem uma obsessão com a morte e o luto. Não posso dizer que não compreendo. É um dos temas mais espinhosos e perenes da história humana. E algo que, no Japão e outros países asiáticos, carrega tabus específicos.

Fábio "Mexicano"-

As duas histórias querem dizer algo como "cuidado com o que deseja"? No primeiro eles eram só um clube escolar, provavelmente estavam mais brincando do que levando a sério, e no segundo foi por acidente que descobriram que espantalhos prendiam as almas e adquiriam características dos mortos, mas enlutados, ninguém parou para pensar por dez segundos sobre como isso é uma ideia terrível: você gostaria de, depois de morto, ter sua alma presa a um espantalho em cima de seu túmulo?
Outra coisa relevante: nos dois casos o sobrenatural existe e, abordado sem cuidados, é perigoso - o Tsukano diz isso, aliás. Mesmo assim, não é como se o sobrenatural fosse maligno em si. Pessoas morreram e sofreram nos dois episódios, mas nos dois casos, apesar do envolvimento do sobrenatural, o ato maligno originário foi praticado pelas próprias pessoas: o Kitagawa que empurrou o Shibayama para a morte no primeiro conto, e foi o pai que matou o filho no segundo.

Vinicius Marino-

O Ito parece deixar bem claro que o maior mal vem das próprias pessoas. Mesmo nas suas histórias que de fato incluem uma entidade nociva, são os "anjos maus" da nossa natureza (a ira, a inveja, o ciúme) que empurram as personagens ao seu encontro. Acredito que essa seja uma das marcas do bom terror. Nossos corações são muito mais aterrorizantes que qualquer monstro.

Gato de Ulthar-

Interessante levantarem esse ponto. Nas histórias de Ito que li, mesmo nas mais apocalípticas, como Hell Star Remina e Uzumaki, onde tudo ocorre independentemente da vontade humana, os seres humanos capazes de fazer escolhas sempre acabam fazendo as piores possíveis, não ajudando o próximo e ainda atrapalhando ou perseguindo os demais.
Em uma situação de desespero, a sombra do inconsciente vem à tona e mostra as piores e mais profundas facetas do ser humano.

Diego

Não sei se concordo com a ideia de que o Ito coloca que o maior mal vem das pessoas. O maior mal geralmente vem de alguma entidade sobrenatural quase sempre, e as pessoas só fazem ficar insanas e desesperadas. No final do dia, inexistisse o elemento sobrenatural todo mundo seguiria vivendo normal e numa boa. Talvez situações extremas extraiam o pior do ser humano, mas justamente por serem extremas não me parecem uma boa balança sobre a qual julgar a humanidade.

Vinicius Marino-

Precisaríamos de uma série de contos "não-weird" para botar isso a prova. Mas não sei. Algumas das aparições parecem inclusive manifestações físicas do pior do ser humano. Tipo aquele episódio dos oráculos das encruzilhadas. Ou a violência doméstica do conto do catupiry, semana passada.

Gato de Ulthar-

Não acho ruim que o objetivo de Ito seja justamente extrair o pior da humanidade em situações extremas de desespero e terror.
O desconhecido é o prior medo de todos, quando o encaramos damos margem aos nossos piores pensamentos. Não que todo mundo fique insano em uma situação destas, já que temos vários protagonistas que mal e mal se mantém na normalidade.
Sempre acabo citando Lovecraft numa hora destas: "A emoção mais antiga e mais forte da humanidade é o medo, e o mais antigo e mais forte de todos os medos é o medo do desconhecido."

Fábio "Mexicano"-

No caso do conto do espantalho, os piores males foram cometidos antes do advento dos espantalhos - ou seja, antes da emergência do sobrenatural. Então sim, o mal está no coração humano, pelo menos nesse conto.

Gato de Ulthar

Já que o Fábio comentou o conto do espantalho, como vocês interpretam a seguinte cena, onde o viúvo morre debaixo de sua amada/espantalho? Seria o desejo de ficarem juntos até mesmo depois a morte? Ou será que ele tinha alguma culpa no cartório como no caso do pai que matou o filho?

Fábio "Mexicano"-

O pai botou a culpa nele, afinal, e ele disse que o que quer que tenha acontecido só aconteceu porque o pai não permitiu o relacionamento deles. Deve ter morrido na fuga, sei lá.

Vinicius Marino-

Eu li pelo lado metafórico. Ele nunca se livrou do "peso" da morte da mulher.

Fábio "Mexicano"-

Faz bastante sentido também

Diego-

A cena anterior realmente dá a entender que o rapaz tinha alguma culpa pela morte da mulher, mas gosto da interpretação do Vinicius. Sentido ela faz.

Fábio "Mexicano"-

Eu não achei que ele tivesse culpa (não dolo, pelo menos), então o voto desse jurado aqui acompanha o colega Vinícius também :stuck_out_tongue:

Gato de Ulthar-

Gostei bastante da possibilidade levantada pelo Vinicius, é a mais sensata mesmo. Vejo também como um amor "além da vida", de qualquer forma eles estão juntos né?

Gato de Ulthar-

Falando mais da primeira história, eu penso que ela trás um toque de humor bem interessante, muito mais eficiente do que as histórias de qualidade duvidável do Souchi, fazendo várias referências aos mangás/animes "shounen", visto os raios de luz, dinossauros e saltos no ar com mais de 10 metros de altura. Será que vocês tiveram a mesma impressão?

Fábio "Mexicano"-O

Talvez o Tsukano seja uma entidade capaz de materializar os desejos ocultos das pessoas ao redor dele?

Gato de Ulthar-

Eu pensei nisso. Ele também pode ser uma espécie de entidade que é muito comum no universo do Ito, como a Tomie, só que ao invés de atrair homens, ele atrai bizarrices sobrenaturais.

Fábio "Mexicano"-

Entidades que talvez nem estejam conscientes de seus poderes e condição, ou não totalmente conscientes pelo menos. Bom, o Tsukano sabia de algo, porque ele fala no final que não vai levar o moleque do poder de fogo com ele, então além de ser algo especial, ele sabe pelo menos de parte disso.

Diego-

O anime deixa ambíguo se o personagem atrai eventos sobrenaturais ou se ele os ativamente cria. Pela cara que ele faz no final, eu iria pelo segundo caminho, de que ele cria esses eventos para se divertir causando o caos.

Gato de Ulthar-

Uma espécie de entidade zombeteira! Só penso se ele fica fazendo essas coisas em cidade em cidade, acho que as autoridades já teriam criado um padrão de eventos estranhos ocorrendo pelo Japão. Se fosse uma coisa ou outra eu nem diria, mas tivemos um Godzilla, adolescentes soltando rajadas de energia e estátuas da ilha de Páscoa!
Claro que muito provavelmente o Junji Ito nem pensou tão longe em sua história para ter cogitado esses problemas técnicos que a atitude do rapaz geraria no mundo.

Diego-

Eu sinto que isso pode ser aplicado a MUITO dos contos que vimos até agora. Todos os contos envolvendo mudanças no corpo (a garota que vira boneca, a outra que vira lesma, os que aparecem furos no corpo) teriam NO MÍNIMO saído em tudo que é jornal e feito dessas pessoas casos de estudo da medicina. Mas é extremamente raro que esses eventos pareçam ter qualquer impacto no mundo, só afetando sempre uma pessoa ou, no máximo, uma cidade.

Gato de Ulthar-

Mas até que faz sentido uma situação destas, ou pelo menos é uma saída natural quando se escreve histórias curtas e de terror como as do Junji Ito, não daria para expor todas essas consequências, isso demandaria um mangá com vários capítulos, como ocorre em Uzumaki, onde os efeitos bizarros se concentram apenas em uma cidade, mas a situação dela chama a atenção de repórteres de fora do local.

Vinicius Marino-

Eu acredito que isso, de certa forma, faz parte do terror. O mais apavorante não é o que acontece. É esse sentimento meio kafkiano de que ninguém está nem aí.
Você pode se transformar em um inseto que ninguém liga

Gato de Ulthar-

Um bom ponto Vinicius, justamente essa sensação de completa anormalidade, onde todos os elementos estão envoltas em uma situação tão bizarra que ninguém se importa mais com o que é real ou não é.

Fábio "Mexicano"-

Aquele sentimento de "MAS VOCÊS NÃO TÃO VENDO O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI? OI???"
Aterrorizante é sentir-se abandonado em um mundo cruel ou incompreensível.

Gato de Ulthar-

Uzumaki é um bom exemplo nesse sentimento, dentro de pouco tempo os moradores da cidade se veem obrigados a se adaptar com as estranhezas, e elas começam a parecer completamente normais.
Como se sempre estivessem ali.

Vinicius Marino-

Muitas vezes o terror nada mais é do que uma forma de ilustrar essas ansiedades sociais. Tipo problemas mentais (que passavam batido antes do desenvolvimento da psiquiatria moderna). Ou ainda fenômenos como o gaslighting, quando um indivíduo ou uma comunidade forçam uma pessoa a duvidar das suas memórias.

Gato de Ulthar-

Mudando um pouco de assunto, o que vocês acharam de este episódio, levando em conta o que o anime foi até agora? Melhorando minha pergunta, quero saber se vocês acham que o anime melhorou ao longo dos episódios, manteve o mesmo nível ou até decaiu?
E no que ele ainda poderia melhorar e não fez.

Diego-

Considerando o quão horrível foi o episódio 1, eu diria que dele em diante o anime pelo menos ou melhora ou mantém a qualidade. Ah, isso no roteiro, a animação tem momentos que dão vergonha.

Fábio "Mexicano"-

Teve episódios melhores e piores. Esse não é dos melhores, mas está acima da média. A animação foi a tosquice de sempre, claro.

Vinicius Marino-

Concordo com o Fábio. De uma forma geral, no entanto, a série se redimiu de seu primeiro episódio. Mas acho que já falei isso antes

Fábio "Mexicano"-

Junji Ito quis começar assustando a gente, só isso :stuck_out_tongue:

Gato de Ulthar-

O que mais assusta um otaku em um anime de terror? Horror psicológico, gore, monstros? Nenhuma destas alternativas, o que mais assusta é uma animação ruim!
Eu poderia perguntar o que vocês esperam do último episódio deste anime, mas como é uma obra episódica, não teremos um desfecho de uma trama, mas sim mais dois contos adaptados.
Assim, vamos ver o que nos reserva o último episódio de Junji Ito Colletion!

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